20 de dezembro de 2022
Realmente não é nada familiar para quem lê “luxação da patela”. Não é algo que aprendemos no colégio ou na faculdade. Muitos estão lendo esse termo pela primeira vez. Porém, hoje, iremos explicar tudo sobre o assunto!
Precisamos compreender, que a patela se desloca em pessoas que possuem uma anatomia favorável a isso e que nem todas as pessoas estão vulneráveis a ter uma luxação da patela.
Pessoas sem fatores predisponentes para a luxação dificilmente a terão, já que a energia necessária para deslocar a patela fará com que outras lesões, como fraturas ou lesões ligamentares do joelho, aconteçam antes de a patela sair do lugar. Neste artigo, abordaremos os seguintes tópicos:
- O que é a luxação da patela
- Como ocorre a luxação da patela?
- O que o paciente sente após a luxação da patela?
- Luxação recidivante (reaparecimento) da patela
- Como é feito o diagnóstico e tratamento
Continue acompanhando e saiba mais!
O que é a luxação da patela?
No joelho, temos quatro ossos principais, o fêmur (osso da coxa), a tíbia e a fíbula (ossos da perna), e a patela. Anos atrás, a patela era chamada de rótula. Pois, justamente, a patela é aquele osso arredondado que fica na frente do joelho.
A patela normalmente fica encaixada no fêmur, numa região que chamamos de tróclea. Quando a patela sai do lugar, chamamos de luxação da patela; ou, de forma mais técnica ainda, chamamos de luxação patelofemoral.
Como ocorre a luxação da patela?
A luxação ocorre em decorrência de uma força de contração do quadríceps associada a um movimento de flexão e rotação do joelho. Como falamos inicialmente, é preciso compreender, porém, que a patela se desloca em pessoas que possuem uma anatomia favorável a isso e que nem todas as pessoas estão vulneráveis a ter uma luxação da
patela.
Os principais fatores associados ao deslocamento da patela são a displasia da tróclea, patela alta e a lateralização do tendão patelar, fatores estes que discutiremos a seguir.
O que o paciente sente após a luxação da patela?
Em alguns pacientes, a patela sai do lugar e permanece deslocada no lado de fora do joelho. Alguns pacientes dão entrada no hospital ainda com a patela fora do lugar. Entretanto, o próprio paciente pode colocar a patela de volta sobre a tróclea, fazendo isso voluntária ou involuntariamente.
Na maioria das vezes, porém, a patela se desloca em relação à tróclea e retorna imediatamente para o lugar. O paciente refere apenas que o joelho falhou e depois ficou dolorido e inchado.
Luxação recidivante (reaparecimento) da patela
Após algumas semanas de um primeiro episódio de luxação da patela, o joelho desincha e a dor melhora. O ligamento patelofemoral medial cicatriza, mas eventualmente esta cicatrização será insuficiente e deixará ele ligeiramente mais frouxo do que antes.
O paciente que antes tinha uma anatomia óssea que favorecia o deslocamento da patela tem agora também as estruturas capsulo-ligamentares incapazes de manter a patela no lugar, deixando o paciente mais vulnerável para um segundo episódio de luxação da patela.
Cada vez que a patela sai do lugar, mais frouxos ficam os ligamentos e menor a energia necessária para que ela volte a se deslocar, caracterizando o que chamamos de luxação recidivante da patela.
Uma das formas utilizadas para caracterizar a luxação recidivante da patela é o que denominamos de “sinal da apreensão”, um teste no qual o médico tenta deslocar a patela e o paciente reage com uma forte apreensão e contração da musculatura, para evitar que a patela, de fato, se desloque.
Quanto mais jovem for o paciente no momento da primeira luxação, maior o risco de desenvolver luxação recidivante da patela. Da mesma maneira, quanto menor a energia do trauma que provocou a luxação, maior a chance de isso acontecer.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da luxação da patela é feito com base na histórica clínica e exame físico do joelho. Os exames de imagem, incluindo radiografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética, ajudam a identificar os fatores anatômicos que contribuem para que a patela se desloque e, também, para avaliar eventual comprometimento de outras estruturas em decorrência dos deslocamentos da patela, principalmente da cartilagem articular. Isso será fundamental no caso de eventual programação cirúrgica.
Os exames de imagem ajudam também a identificar uma eventual avulsão do ligamento patelofemoral medial. Isso acontece quando o ligamento, ao invés de se romper, arranca um fragmento do osso no qual ele se prende - no caso, a patela. Isso será importante no momento da escolha do tratamento.
Como é o tratamento da luxação da patela?
O tratamento inicial após um primeiro episódio de luxação da patela envolve o uso de gelo, medicações anti-inflamatórias e, eventualmente, imobilizadores. A mobilização do joelho deve ser iniciada o mais cedo possível, para evitar que o joelho perca a mobilidade.
A fisioterapia poderá ajudar a estimular a cicatrização do ligamento, para recuperar a mobilidade do joelho, reduzir o edema e recuperar a função da musculatura ao redor do joelho.
Na maior parte das vezes, os pacientes são tratados sem cirurgia após o primeiro episódio de luxação da patela. Exceção a isso ocorre na presença de uma avulsão do Ligamento Patelofemoral Medial ou na presença de outras lesões concomitantes que precisem de tratamento cirúrgico, especialmente as lesões da cartilagem articular.
Infelizmente, em torno de 50% dos pacientes voltam a deslocar a patela e vêm a desenvolver um quadro de luxação recidivante da patela. Existem diversos fatores que determinam um maior ou menor risco para a patela voltar a deslocar.
Quais são os pacientes que apresentam maior risco?
São considerados pacientes de alto risco aqueles mais jovens (especialmente abaixo dos 14 anos), com displasia troclear mais grave, patela alta e histórico de luxação da patela no joelho contralateral.
Na presença de todos estes fatores de risco, a ocorrência de uma nova luxação pode chegar a 90%. Nos casos com risco excepcionalmente elevado para uma nova luxação é válida a discussão a respeito do tratamento cirúrgico já após este primeiro episódio de luxação da patela.
Luxação recidivante da patela
Em casos de luxação recorrente, o tratamento inicial deve ser o mesmo descrito para o primeiro episódio de luxação. A diferença, neste caso, é que a recuperação tende a ser incompleta. Ainda que a dor e o edema melhorem, a instabilidade e falta de segurança aumentam a cada episódio de luxação.
Cada vez que a patela sai do lugar, o ligamento patelofemoral medial e o retináculo patelar, responsáveis pela estabilização da patela, se rompem. Estas estruturas possuem boa capacidade de cicatrização, mas a tendência é que cicatrizem ligeiramente mais frouxo do que antes. Com o tempo, o ligamento pode ficar tão frouxo que não mais precisará se romper para que ocorra o deslocamento da patela. Como os exames de imagens são mais limitados para mostrar uma frouxidão sem lesão, o ligamento pode ser interpretado como normal, ainda que esteja clinicamente insuficiente.
A fisioterapia, nestes casos, pode ajudar a melhorar a função da musculatura, mas não será capaz de recuperar o ligamento mais frouxo. Assim, a única forma de recuperar a estabilidade do joelho é por meio de cirurgia. A indicação de cirurgia, desta forma, deve ser baseada na histórica clínica e exame físico do joelho; exames de imagem devem ser solicitados para avaliar quais os fatores que estão contribuindo para a instabilidade patelar e, assim, para determinar qual a melhor técnica cirúrgica em cada caso.
Quem apresenta luxação recidivante da patela invariavelmente tem frouxidão do Ligamento Patelofemoral medial (LPFM), de forma que este ligamento sempre deverá ser reconstruído.
Ainda que praticamente todos os pacientes com luxação recidivante da patela apresentem algum grau de displasia da tróclea, poucos são aqueles que de fato precisam corrigir esta displasia. Muitas pessoas com a tróclea rasa convivem normalmente com isso, uma vez que tenham os ligamentos competentes. Além disso, a correção da displasia não é simples e não deixa a anatomia normal, de forma que devem ser considerados apenas em casos com displasia mais grave – especialmente aqueles com a tróclea do tipo C ou D.
A osteotomia de medialização da tuberosidade da tíbia deve ser feita juntamente com a reconstrução do Ligamento patelofemoral medial em pacientes nos quais a medida do TAGT (descrita acima) for maior do que 20mm;
A liberação retinacular medial é indicada em pacientes com inclinação patelar aumentada:
- Técnica cirúrgica – Reconstrução do ligamento patelofemoral medial
- Técnica cirúrgica – Osteotomia da tuberosidade da tíbia
- Técnica cirúrgica – trocleoplastia
Esperamos que este artigo tenha esclarecido as suas dúvidas sobre o assunto!
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